quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Nós e Elis de Roraima

por Roraima, compositor, músico e teresinense há 25 anos 
 
Me apresentei inúmeras vezes no Nós e Elis e conheci muita gente. Foi um momento de transição na minha vida profissional, onde comecei a expandir minhas parcerias com outros músicos, poetas, letristas e simpatizantes da boa música piauiense. Talvez por esse motivo, ou esses motivos, eu tenha desenvolvido a característica de descobrir, juntar, trazer, dividir espaços e somar valores em torno do meu trabalho. 
 
Quanto ao Nós e Elis, grandes nomes como Edvaldo Nascimento (nosso Pai do Rock) chamava-o carinhosamente de “Nós e Elvis”. Geraldo Brito, com seu ouvido clínico e grande conhecimento, descobriu e lançou nomes no Nós e Elis. Parecia que havia uma feliz conspiração vinda do nome “Nós” e “Elis”: a nossa grande guerreira da MPB descobriu e lançou muita gente como: Belchior, João Bosco, Tunai etc.
 
Nós brincávamos dizendo que o palco do Nós e Elis tinha uma espécie de triângulo das bermudas. O piso era de madeira e havia espaços entre uma peça e outra, de modo que quando caia uma palheta no chão, o músico se desesperava vendo-a sumindo e não tinha mais como resgatá-la. Quando a gente via alguém apavorado no palco, já sabíamos o que havia acontecido. Quando a expressão seguinte era de alegria, era porque a palheta estava às margens do abismo. Quando recuperada, todos da banda comemoravam.
 
Aconteceu uma passagem interessante em uma das minhas apresentações. Quando os caras da banda começaram a sair acanhados por estarem tocando na presença de um grande compositor da MPB, que acabara de chegar e eu não havia percebido. Nessa época ainda estávamos totalmente inseguros quando dávamos de cara com pessoas famosas na nossa frente nos assistindo. Neguim tremia nas bases mesmo. Lembro que o último a sair chegou no meu ouvido e disse: “Roraima, sai fora, olha quem está na platéia!”. Aí eu pude perceber de quem se tratava: do grande Maurício Tapajós sentado sozinho numa mesa. Pensei em fazer o mesmo, cheguei a me tremer, mas lembrei que havia pegado uma música dele recentemente e comecei a cantar: “pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto / estou voltando...”. Terminei a música, ele me aplaudiu de pé e todo mundo começou a aplaudir também.
 
Daí, Tapajós me chamou pra sentar à mesa com ele e logo em seguida todos os músicos também se sentaram. Quando viram o cara bacana que ele era, pedindo pra ouvir mais nossas músicas, aí não pararam mais as canjas. Foi muito marcante esse dia.
 
Outro caso engraçado aconteceu na “Quarta Poética”. Certo escritor piauiense declamava empolgado uma poesia, quando numa mesa logo a baixo, próximo do palco, uma figura dessas que não merecia estar ali, gritou: “cala a boca, viado!”. O poeta não contou conversa e jogou o pedestal com microfone e tudo em cima do cara e, em seguida, pulou na mesa descendo a porrada. Apartaram a briga, o poeta sobe ao palco pega o microfone e como se nada tivesse acontecido, continua sua declamação. Com essa performance, todos no bar começaram a sorrir e o poeta começou a olhar feio de novo. Todos ficaram sérios e outros foram sorrir fora do bar.
 
Realmente, quem viveu o Nós e Elis tem sempre uma história pra contar. São espaços criados por pessoas idealizadoras, que imaginam e sonham com “um certo lugar” pra sua cidade. Um lugar que possa aglutinar valores com seus mais variados gêneros e espécies, que faça surgirem muitas histórias interessantes e que fazem parte das nossas vidas para sempre. E depois que tristemente se vai, ficamos a imaginar um outro local como aquele que nunca mais vai existir. Mas sempre esperamos que algo parecido venha a surgir.
 
Com toda certeza, Elias Ximenes do Prado deixou na história de sua vida uma notícia nobre: a criação do inesquecível Nós e Elis, que vai morar sempre no nosso coração.

Um comentário:

  1. Nossa Roraima essas histórias são muito boas,
    eu ia comentar sobre o caso das paletas, rapaz imaginei o desespero que os músicos passam nos palcos da vida, mais aquela do Poeta, rsrsrs, essa aí foi demais, queria ter visto a expressão dele.Isso é que é saber sair de uma situação sem chamar muita "atenção", rsrs, coisa que infelismente existe muito , esse tipo de figura que apronta uma dessas ai como: chamar o cara de viado e ainda mandar calar a boca, esse poeta deve ter vivido muito dessas!!
    Legal adorei as histórias e estarei sempre aqui a procura de mais, valeu!!

    1 abraço!!

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